É PRECISO LER

Ler é preciso! Essa é a máxima consagrada de gerações a gerações. Num mundo feito e sustentado por fantasias, esta frase encontra-se demasiadamente entranhada na sociedade, principalmente a urbana.

É feio dizer que não é preciso ler, é deselegante assumir que não se tem hábito de ler, já que é politicamente correto afirmar em alto e bom som que a leitura é importante, afinal é através dela que se adquire conhecimento, progresso educacional, informações em geral, quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Aquelas palavras fantásticas no rodapé das provas em caneta vermelha dizendo: “parabéns”, “ótimo”, “continue assim” só são possíveis pela leitura. Então, diante disso tudo, quem vai ousar dizer que ler não é preciso?

E é nessa paranóia intelectual que fomos educados, educamos nossos filhos e alunos.

Mito! Isso mesmo. “É preciso ler” foi elevado de frase do léxico da língua portuguesa à coisa consagrada e mistificada, consagrada no sentido literal da palavra, beatificada, separada, santificada, inviolável e incontestável.

A lei mosaica personalizada numa frase. Mas quem ousará dizer “aquele que não lê atire a primeira pedra”. O mundo de “faz de contas” atual não contempla tal transparência. É mais agradável, segundo o pensamento contemporâneo, mentir afinal, evitam-se constrangimentos e a imagem de burro.

Fomos instruídos a ler (ou dizer que lemos) para cumprir uma honrosa missão de dizer que lemos, apenas isso.

Que lástima! O prazer pela leitura, o gosto e o desejo pelo conhecimento foram trocados pela imagem. Os sonhos de outrora foram atropelados pela avalanche da racionalidade ignorante de uma época moderna dita ”pós-moderna”.

Ler não é preciso! Ler é uma necessidade inerente ao homem, é ainda um ato, um gesto, uma realização e um sonho, sim um sonho, pois já houve épocas em que nem a escrita fazia parte do repertório cultural humano e depois de desenvolvida e inventada a imprensa, o ler foi vedado à maioria por uma boa parte da história da humanidade e hoje, a concretização de um sonho antigo se vê materializado, todos podem ler! Podem mas não precisam, mas é desejável que amem, desejem, busquem do fundo do coração.

Ler é um gesto de amor. Amor a si próprio, ao próximo, ao filho, ao educando, à cultura e à vida.

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Escrito por Ailton Raymundo, aluno do curso de Letras da Faculdade Cenecista de Itaboraí.