Queda e ressurreição
O cenário é a Segunda Grande Guerra. Já seria a terceira vez naquela semana que saíam do prédio da escola para os abrigos. Professores, crianças, funcionários. Talvez fosse a décima vez no mês; quem saberia dizer, ao certo, quantas vezes seriam naquele ano? Nutria-se o medo com a penumbra dos túneis e com os olhares silenciosos. Um instante de temor poderia ser interrompido quando as mentes dos pequeninos, como as asas da águia que planam ao ar sem esforço, fugiam do úmido porão e encontravam brincadeiras no barulho das bombas que caíam, por tão comuns que eram aqueles bombardeios.
Só se poderia sair dos abrigos e voltar para a escola depois de muitos minutos; horas talvez, pois não se conseguia medir o tempo ali, e o assombro não possuía o passado nem o futuro, só o presente. Esperavam que o silêncio sentenciasse o fim dos ataques para imperar as vozes dos homens chorando seus mortos, com burburinhos e gritos de dor, indignação tristeza e alívio.
Naquela manhã, entretanto, tal qual o prazer lúdico da saída da escola no fim do dia, ouviu-se um diferente alarido de infante júbilo: crianças alvoroçadas, correndo e pulando, como numa brincadeira de roda, comemoravam o fim antecipado das aulas, porque o prédio da escola fora destruído pelas bombas.
No magistério, deparamos com inúmeros problemas que nos inquietam enquanto não encontramos para eles soluções. A história acima nos faz refletir, mesmo que metaforicamente, o sentimento que os pequeninos têm nutrido pela Escola ainda hoje, apesar de mais de meio século do ocorrido. Entretanto, a Escola não deve ser apenas um prédio com mobiliários, quadro e giz; ou uma instituição com ferramentas tecnológicas de última geração, mas, acima de tudo, deve representar a vivência de professores e alunos, que compartilham seu espaço de aprender e de ensinar, tornando-o afetivamente atraente e desejante, por meio das relações humanas, sublimando o olhar e o sentimento que se expressam a seu respeito.
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