NATIVOS E IMIGRANTES DIGITAIS
No mundo tecnológico de celulares, videogames e internet, muitas crianças e adolescentes se refugiam atraídos pelo virtual, que os transforma em astros ou heróis, com suas imagens e jeito de ser disponibilizados em mídias digitais. Esses alunos fazem parte da geração que nasceu com um computador em casa: “os nativos digitais”. Nós, que temos a responsabilidade de educá-los, somos – por enquanto, até novas gerações de educadores – os “imigrantes digitais”. Os termos foram cunhados pelo educador americano Marc Prensky.
Imaginemos aquele sujeito que depois de muitos anos vivendo em seu país muda-se para outro, onde precisa aprender uma nova língua, cultura e todos os atributos necessários para comunicar-se. Esse somos nós. Não nascemos no mundo digital, mas mudamos para ele. Assim, todo o processo torna-se uma adaptação e, às vezes, até angustiante. Apesar de alguns imigrantes serem hábeis, não deixam de ser imigrantes, pois vieram de outro mundo, o analógico, e dele ainda guardam algum sotaque e manias, como usar agenda em papel, bloco de anotações e celular apenas como telefone, porque, como imigrantes, não conseguem explorar todos os recursos lingüísticos da sua nova pátria.
Os nativos, ao contrário, espontaneamente desapegam-se da segurança do contato com o concreto, bastando-lhes o virtual. Para eles, não existia vida antes do computador. O acesso ao conhecimento medeia-se pelas novas tecnologias: Celulares, iPods, videogames, Internet.
Essa forma de relação com o saber tem reordenado a interação entre alunos e escola, provocando um descompasso entre o velho e o novo modelo de aprendizagem. No modelo antigo, a lógica é linear: começo, meio e fim. No modelo novo, o acesso ao conhecimento ocorre paralelamente. Os assuntos nunca estão isolados, mas sempre ligados a temas correlatos. Hoje, os alunos vêem TV (às vezes pela Internet), ouvem música, conversam no Messenger, trocam recados no Orkut, falam no Skype, enquanto pesquisam no Google o trabalho da escola. Suas mentes acostumaram-se a aprender de forma peculiar, sem começo, meio e fim, sendo eles próprios agentes do seu aprendizado. É normal levarem essa lógica para a sala de aula
A grande questão no universo das novas tecnologias na educação está na diferença entre a forma como a escola oferece o ensino e a forma como os alunos aprendem. Enquanto as conexões tecnológicas fazem com que eles tenham raciocínios sempre mais rápidos, sendo elementos ativos na construção de conhecimentos, as aulas tendem à dispersão quando eles são tão-somente elementos passivos. É ingenuidade achar que não há interferências na maneira de aprender. É preciso haver empatia, resultado do fluxo de atenção canalizado pelo afeto e pela criatividade, no contato professor-aluno, porque o educando também precisa desenvolver a reflexão e não somente a velocidade de pensamento. É notória a mudança na transmissão de conhecimentos: estamos saindo de uma cultura moderna, calcada em livros, para uma pós-moderna feita de novas tecnologias.
Do livro "Afeto e aprendizagem: amorosidade e saber na prática pedagógica"
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