Autismo: um olhar pedagógico para a inclusão





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O autismo compreende um conjunto de comportamentos agrupados numa tríadeprincipal: comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social eatividades restrito-repetitivas. Alguns sinais externos no educando ajudam oreconhecimento do transtorno:

• Retrair-se e isolar-se das outras pessoas;
• Não manter contato visual;
• Resistir ao contato físico;
• Resistir ao aprendizado;
• Não demonstrar medo diante de perigos reais;
• Agir como se fosse surdo;
• Birras;
• Não aceitar mudança de rotina;
• Usar as pessoas para pegar objetos;
• Hiperatividade física;
• Agitação desordenada;
• Calma excessiva;
• Apego e manuseio não apropriado de objetos;
• Movimentos circulares no corpo; 
• Sensibilidade a barulhos;
• Estereotipias;
• Ecolalias;
• Não manifestar interesse por brincadeiras de faz-de-conta;
• Dificuldade para simbolizar e compreender subjetividades.
 
Aparecendodesde o nascimento ou nos primeiros anos de vida, proveniente de causas biológicasdesconhecidas, o autismo tem demandado muitas indagações. Possui diferentesníveis de gravidade e está relacionado com outros sintomas que começam nainfância, mas é absolutamente certo que o diagnóstico precoce, o tratamentoespecializado e a educação adequada melhoram a qualidade de vida em qualquernível de comprometimento. O autismo é tratável. Há casos em que os sintomasforam revertidos amplamente, possibilitando inclusão escolar e social.
OTranstorno de Asperger, considerado por muitos como autismo de alto funcionamento,difere do autismo clássico principalmente por não ocorrer retardo mental,atraso cognitivo e considerável prejuízo na linguagem. Apesar de não haver oretraimento peculiar autístico, a criança, entretanto, torna-se também muitosolitária. Desenvolve interesses particulares e habilidades em camposespecíficos, mas com modos de pensamentos complexos, rígidos e impermeáveis anovas idéias.  Alguns números relatam quea taxa média de prevalência do autismo é de cerca 15 casos por 10.000indivíduos, sendo mais comum entre os meninos.
Durantemuitos anos, acreditou-se que o autismo estava ligado a problemas na relação damãe com a criança. Hoje, sabe-se que o autismo é um transtorno invasivo, e aspesquisas científicas creditam o comprometimento a alterações biológicas,hereditárias ou não. É um distúrbio multifatorial onde a capacidade parapensamentos abstratos, jogos imaginativos e simbolização fica severamenteprejudicada.
Acriança cria formas próprias de relacionamento com mundo exterior. Em consequênciado convívio, podemos dizer que todos nós possuímos uma mente social, que nospossibilita fazer conexões apropriadas com o mundo ao redor. Nossa razãoconsulta constantemente nossa memória social para direcionar o comportamento.Quando chegamos a um local, por exemplo, percebemos de modo global o ambiente,porque aprendemos a ver as coisas não isoladamente, mas conectadas, numcontexto de relações. Dirigimos, consequentemente, nossas ações de acordo com oque é socialmente adequado. Todavia, no mundo autístico, nem sempre issoocorre. O mais das vezes, em decorrência do isolamento, há uma fixação emdetalhes específicos, percebidos menos em razão do conhecimento social e maisem por causa do estímulo que o indivíduo recebe de determinado objeto ousituação. Isto provoca comportamentos peculiares.
Assim,o autista passa a ter uma relação singular com tudo que é externo. Fixa-se emrotinas que trazem segurança, não interage normalmente com as pessoas,inclusive com os pais, e nem manuseia objetos adequadamente, gerando problemasna cognição, com reflexos na fala, na escrita e em outras áreas.
Eleaprende de forma singular. Há uma relação diferente entre o cérebro e ossentidos e as informações nem sempre geram conhecimento. Os objetos não exercematração em razão da sua função, mas em razão do estímulo que promovem. Um lápispoderá se tornar apenas um objeto de contato sensorial, perdendo sua função.
Parailustrar o que falamos, usaremos como exemplo o ocorrido com Filipe, um meninoautista de oito anos. O garoto pouco se comunicava, possuía algumasestereotipias, fixava-se em rotinas e mantinha-se, na maioria das vezes,isolado das outras crianças. Era a festa do seu aniversário. Um colega daescola trouxe-lhe um pacote bem enfeitado com reluzente papel, que continha umcaro brinquedo: presente de quem ama. Filipe, então, correu até ao amigo,tomou-lhe o pacote das mãos e começou a abri-lo. Todos aguardavam para ver asua reação diante de tão atraente brinquedo. Para surpresa geral, após abrir opacote, deixou o brinquedo cair no chão, rasgou o cintilante invólucro,fixou-se em um pedaço que trazia um desenho, e passou a brincar com aqueleresto de papel, como se fosse o melhor da festa.
Destarte,o aluno autista necessita descobrir a função de cada objeto e o seu manuseioadequado. Em razão dessas características, o espaço escolar poderá serexplorado, tornando-se um ambiente extremamente pedagógico. A atuação dosprofissionais da escola é fundamental, uma vez que, muitos casos decomportamento autístico foram percebidos primeiramente em sala de aula.
Emalguns quadros, há o acometimento de convulsões, já que o autismo pode virassociado a diversos problemas neurológicos e neuroquímicos. É necessáriorealizar uma série de exames clínicos, avaliações e análises para se obter umnúmero suficiente de informações para maior precisão do quadro. Os médicos,professores, fonoaudiólogos, terapeutas, psicólogos e familiares que lidam comeste tipo de problema dependem do trabalho em conjunto para o estabelecimentoda educação e tratamentos adequados.
O grande foco na educação escolar deve estarno processo de aprendizagem e não nos resultados, porque nem sempre eles virãode maneira rápida e como esperamos. É preciso atentar para a carga afetiva doaprendente, observando aquilo que possui funcionalidade para ele. Talvez, fazercontas em um caderno não tenha sentido algum, mas relacionar datas com fatos,números de telefone ou qualquer outra atividade que traga sentido, poderá serum caminho para a aprendizagem matemática.
A escola que possui sala de recursos terácondições de desenvolver habilidades específicas. Todavia, a educação precisaser vivenciada igualmente na sala comum, com os demais alunos.
Normalmente, a concentração para atividadespedagógicas é muito pequena. Mas ainda que seja exíguo o tempo de atenção, aperseverança em repeti-lo dia após dia, de maneira lúdica e agradável, produziráresultados. O aluno carece de uma educação individualizada, com ênfase namudança de alguns comportamentos e aprendizado de outros.
É normal o autista sentir-se desconfortável eintimidado em um ambiente novo. É normal buscar apoio nas coisas ou movimentosque lhe atraem. É normal a birra quando alguém o contraria. É normal o medo e araiva ganharem proporções traumáticas. O professor tem que aprender a lidar coma realidade do mundo autístico. Nessa relação, quem aprende primeiro é oprofessor e quem vai ensinar-lhe é o aluno.
Muito raramente o autista irá interagir peloolhar. Para receber o seu olhar, o professor precisa fisicamente abaixar-se atéele e olhá-lo nos olhos, ficando na sua estatura. Isto é muito significativo,porque é preciso atrair para educar. A figura masculina no ensino do meninoautista é muito importante, porque a imitação e o condicionamento são maisenfatizados, o que torna a educação realizada por um homem extremamenterelevante. Isto não obscurece, todavia, a importância da mulher, ao contrário,ratifica que as diferenças devem ser somadas. A mulher sempre nos faz lembrar oamor.
Em muitos casos, o indivíduo com autismo nãopossui autonomia para realizar coisas simples e cotidianas, como escovar osdentes ou vestir-se. A escola poderá planejar um currículo funcional para avida prática, trabalhando tarefas que devem ser administradas em perfeita sintoniacom a família, começando por aquelas que são mais importantes aprender. Inicialmente,algumas de maior facilidade até o pleno domínio. Posteriormente, acrescenta-seuma nova tarefa.
É natural que rotinas sejam mantidas equebradas. Ao mesmo tempo em que representam um porto seguro para o autista e,por meio delas, pode-se criar processos de ensino e aprendizagem, também, dequando vez, precisam ser rompidas para que o aprendente descubra o mundo forade seus muros. Não se faz isso sem amor e afeto. Sem a segurança que asmediações pedagógicas de amorosidade possibilitam na relação entre o professore o aluno.
Para a construção de um currículo na escola énecessário verificar quais habilidades necessitam ser conquistadas. Desenvolvera capacidade de concentração no aprendente será o primeiro passo do professorou professora, pois o que mais impede o aprendizado do autista é a falta deatenção ao que lhe é falado.
Estudos que buscam tratamentos biológicospara o autismo ressaltam a importância de uma dieta alimentar para evitar aincidência de convulsões e melhorar o desempenho nas atividades. Revelam danospotenciais causados por metais pesados, como o mercúrio e alimentos que contêmcaseína, glúten e açúcar. A alergia alimentar pode alterar acentuadamente ocomportamento, prejudicando o aprendizado.
Algumas abordagens pedagógicas em pessoas comautismo são de base comportamental. No entanto, não devem aprisioná-las acondicionamentos específicos - nem podem ter caráter invasivo - antes, devemlivrá-las das limitações comportamentais que lhes trazem dano, procurandointerferir precocemente para promover o desenvolvimento escolar, de forma que hajaautonomia o mais cedo possível. O ponto mais importante é tornar o aprendizadoagradável e afetivo. 
É fundamental que a educação seja centrada prioritariamente no ser humano e nãona patologia, tornando indispensável um currículo que transcenda as concepçõesde deficit e torne a práticapedagógica rica em experiências educativas. Transforme as necessidades doautista em amor pelo movimento de aprender e de construir, concedendo-lheautonomia e identidade.
 
 
Orientações para o professor:
 
Falar deforma serena, explícita, nomeando objetos e atividades, buscando cativar aatenção, olhando sempre nos olhos do aluno. Estimular a necessidade deconversação do autista; deixá-lo motivado a dar vida ao seu desejo. Falasobjetivas são mais bem compreendidas. Nem sempre o autista compreendeexpressões subjetivas ou do tipo “não faça isso!” O melhor é mostrar-lhe o quefazer, dando funcionalidade às ações.
É normal o autista tentar esquivar-se parafugir ou até irritar-se e usar de birras para não fazer o que é pedido. Éimportante redirecionar sua atenção para a atividade, não valorizando asreações. Toda atitude que seja prejudicial deve merecer uma investigação para adescoberta dos motivos que a desencadearam.
Lidar com birras não é fácil, mas quanto maistempo os comportamentos disruptivos durarem, mais difícil será tratá-los.Muitos são os fatores que os motivam, dentre os quais, o barulho, mudança derotina, excesso de estímulos, incertezas, ansiedades, conflitos efrustrações.  Qualquer criança quandodescobre que uma birra funciona a seu favor, poderá utilizar esse artifíciopara conseguir o que deseja. Com uma criança típica, uma boa conversa podereverter essa tendência. Todavia, em um quadro de autismo as coisas não são tãosimples. É preciso incansável perseverança para redirecionar as condutas eensinar a forma adequada de expressar sentimentos e desejos. 

Diantedisso, é importante:
 
• Penetrarno mundo do autista;
• Concentrar-seno contato visual;
• Trazersempre o olhar do autista para as atividades que ele está fazendo;
• Entreter-secom as brincadeiras do autista;
• Procurarsempre enriquecer a comunicação;
• Mostrara cada palavra uma ação e a cada ação uma palavra;
• Tornarhábitos cotidianos agradáveis;
• Fazertudo com serenidade, mas com voz clara e firme; 
• Executar uma atividade de cada vez;
• Trabalhar a função simbólica por meio de livros, contação de histórias, música, artes e outros canais sensoriais;
• Privilegiaros vínculos afetivos.
 


 





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Gisele De Oliveira Domingues Alonso

05/04/2013 - 00:00:00

Estou fazendo tcc sobre autista e gostaria de algumas sugestoões de livro, se puder me ajudar ficarei mto feliz.



Olá Gisele, caso precise de ajuda, estarei por aqui. Podemos falar por email: eugenio@eugeniocunha.com abraço eugenio


Rosangela Acioli da Cunha

11/03/2013 - 00:00:00

Artigo bem interessante,irei comprar seu livro,pois estou escrevendo meu TCC, sobre autismo e a importância da inclusão escolar,para conclusão do meu curso em Psicologia.Grata pela colaboração!



Olá Rosângela, obrigado pela mensagem e pelas palavras. Vamos manter contato, qualquer coisa que você precisar, estou por aqui abraço fraterno eugenio


Luciene

17/02/2013 - 00:00:00

Adorei seus artigos,estou fazendo pós em psicopedagogia e estou encantada com minha escolha,trabalho na AMA da minha cidade,Campo Grande-MS,estou pensando em fazer meu TCC,sobre as diversas formas de aprender da criança autista,pode me ajudar?gostaria muito de ter todos os seus livros,usarei para pesquisa e fundamentação teórica do meu trabalho de conclusão.Grata por escrever tão bem.



Olá Luciene,bom ler suas palavras, são muito generosas. Continue visitando o site, vamos trocar ideias.Será um prazer ajudar. abraço eugenio


Luciene

17/02/2013 - 00:00:00

Adorei seus artigos,estou fazendo pós em psicopedagogia e estou encantada com minha escolha,trabalho na AMA da minha cidade,Campo Grande-MS,estou pensando em fazer meu TCC,sobre as diversas formas de aprender da criança autista,pode me ajudar?gostaria muito de ter todos os seus livros,usarei para pesquisa e fundamentação teórica do meu trabalho de conclusão.Grata por escrever tão bem.



Obrigado pelo carinho, Luciene, vamos manter contato. Fale sempre do seu trabalho, gostaria de conhecê-lo um pouco mais grande abraço eugenio


Ana Carla

01/05/2012 - 00:00:00

Olá Eugênio estou escrevendo meu Tcc sobre a educação da criança autista. Poderia me ajudar a encontrar livros que fale sobre os procedimentos didáticos para o aluno autista. Obrigada



Olá Ana, obrigado pela sua visita, ela muito me honra. Nos meus livros "Autismo e inclusão" e "Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade" você encontrará muitas sugestões pedagógicas. Outra alternativa, seria visitar o site de alguma associação. Provavelmente, você encontrará algumas ideias e trabalhos pedagógicos. Você já possui meus livros? Um grande abraço, eugenio


Marta Maria Leite dos Santos

02/04/2012 - 00:00:00

Olá eugênio, Estou desenvolvendo o meu TCC sobre autismo, o seu livro tem me ajudado muito na elaboração. Adoraria, se você pudesse me ajudar me dando dicas. Abraços, agradeço desde já.



Olá Marta, obrigado pelo contato. Pode contar comigo, estarei sempre por aqui, abraços eugenio


Marta Maria Leite dos Santos

02/04/2012 - 00:00:00

Olá caro Eugênio, Seu livro é maravilhoso. Parabéns!



Obrigado, Marta, pelas palavras. Estarei sempre por aqui, continue escrevendo abraços eugenio


joselene

07/01/2012 - 00:00:00

gostei muito desse tema. Como posso adequirir seu livro.



Olá Joselene, obrigado pelo contato. Os meus livros estão disponíveis em livrarias que tratam de educação ou nos sites das grandes livrarias na internet: nobel, saraiva, cultura, americanas.com. Você pode adquirí-los ainda no site da editora: www.wakeditora.com.br Caso encontre dificuldades, volte a fazer contato comigo. Será um prazer, também, trocar ideias com você a respeito do tema. Grande abraço eugenio


Rosiléa Alves dos santos

05/11/2011 - 00:00:00

O conteúdo do seu livro vem ajudando na minha prática pedagógica. Sou Pedagoga e professora em uma escola do 1º ao 9º ano em guriri São Mateus- ES



Olá Rosilea, obrigado pelo contato e pelas palavras. Gostaria também de conhecer um pouco do seu trabalho, com certeza, servirá de inspiração para mim. Estarei em Colatina,ES, no final do mês, quem sabe a gente pode se encontrar. Continue a fazer contato abraço eugenio


Lucas Richa

21/06/2011 - 00:00:00

Muito legal. Assim que finalizar o meu livro, me avise.



Seu livro já está pronto! abraço, eugenio


Ana Maria Simões Santos

01/06/2011 - 00:00:00

Muito obrigado pelo texto . Sempre que tiver novidades e puder ,é claro ,lembre-se do meu interesse pelo autismo. No mais, te agradeço de coração. Fique com Deus. Parabéns pelo direcionamento que você tem quando fala sobre autistas.



Olá, Ana você pode me procurar na faculdade sempre que precisar abraço eugenio