Livro high-tech
É
notório que já não conseguimos mais acompanhar os avanços tecnológicos.
Propagandas que enchem os lares oferecendo a mais recente versão de um celular,
netbook, notebook ou do iPad são veiculadas em sites e outros veículos de
informação diariamente, trazendo inúmeras informações e inovações
surpreendentes. Tecnologias que visam a satisfação do usuário, tentam atraí-lo utilizando-se
de estratégias de marketing com promessa de “respostas rápidas, produtividade,
segurança, capacidade de armazenamento excepcional, processadores com excelente
performance e eficiência, além de uma ampla gama de possibilidades advindas do
que há de mais atual na área da informática”. Decerto, a informática tornou-se
a galinha dos ovos de ouro do consumo. Não é por coincidência que mesmo países
atrasados, sem infra-estrutura básica em educação e saúde, por exemplo, são
proeminentes mercados para o consumo dessas tecnologias. Certa vez, li um
artigo que dizia que a faixa com menor poder aquisitivo da população agora está
melhor do que antes, pois possui condições para comprar aparelhos de televisão,
DVD, celulares e outros inventos modernos. Terrível engano. Não é pela
capacidade de consumo que se mede a qualidade de vida de alguém, pois se as
pessoas com menor poder aquisitivo consomem mais, é menos em razão de uma
melhoria de vida e mais em decorrência das estratégias das grandes indústrias
que as escolheram como mercado potencial. Afinal, elas continuam precárias em
saúde, transporte, saneamento e educação. Em razão de apelos comerciais, desejam
usufruir de produtos tecnológicos de consumo, não se apercebendo que precisam
primeiro ter as condições para o desfrute dos direitos essenciais para uma vida
com dignidade, resguardadas pelo Estado e por toda a sociedade.
As
indústrias culturais de consumo insuflaram espetáculos pictóricos nos espaços
midiáticos; tornaram-se organizadores da sociedade e da vida cotidiana. O
consumo aporta-se nas tecnologias como um meio de promoção, reprodução,
circulação e venda de produtos, usando a multimídia para conquistar
consumidores.
Porém, gostaria de falar de um invento que
revolucionou e continua revolucionando a relação do homem com a tecnologia: o
livro high-tech. Nossa história começa a partir
da imprensa de Gutenberg, quando se tornou possível, em todos os lugares, a
divulgação de textos com a unificação da língua, já que, até então, cada um
escrevia e falava como ouvia. O livro high-tech é um produto intelectual derivado
de conhecimentos e expressões individuais e coletivas. Ele surgiu em razão da
escrita, que são códigos capazes de permitir a comunicação entre os homens. O primeiro exemplar dessa tecnologia foi a Bíblia em
latim, o que representou, pela primeira vez na história, o acesso a
conhecimentos até então inacessíveis para a maior parte das pessoas.
Semelhantemente
aos seus concorrentes, nas versões atuais, o livro high-tech é portátil, vem em
diversos tamanhos e cores. Dependendo do usuário, suas páginas digitais podem
conter milhões de informações e histórias que poderão ser acessadas a cada
toque e jamais perdidas ou deletadas acidentalmente, a não ser que o usuário o
jogue fora. Além disso, semelhantemente aos seus concorrentes, ele possui
espaço em cada página ou arquivo para que o usuário possa fazer suas anotações
e considerações. Desta forma, ele poderá escrever ou contar, ao seu modo e de
forma criativa, o conteúdo acessado. O livro high-tech possui capacidade de
memória suficiente para relatórios, informações, histórias e infinidades de
anotações, que poderão ser armazenadas em um HD protegido contra defeitos, a
não ser que o usuário o faça passar pelo fogo, como alguns já o fizeram. Tudo
organizado em ordem alfa-numérica para facilitar o acesso.
Todavia,
diferentemente de seus concorrentes, a sua velocidade depende exclusivamente de
quem o usa e ele não precisa de manual para ser manipulado. Qualquer criança,
na mais tenra idade, poderá abri-lo e utilizá-lo. Já existem até alguns
fabricados especialmente para esse tipo de público, com figuras, fotos e até
gravuras em 3D. Ele dispensa o uso de bateria ou energia elétrica. É
autocarregável, por isso, sua autonomia de uso é infinita, dependendo, é claro,
do cuidado que se terá pelo seu hardware. O livro high-tech, ou simplesmente
livro, possui versões para pessoas cegas e com dificuldades visuais ou motoras.
Isto se chama inclusão! Seu material de fabricação é totalmente reciclável,
algo importante para aqueles que se preocupam com a preservação do meio
ambiente. Diferentemente de seus concorrentes, ele já provou que sua
durabilidade atravessa séculos. Desde Gutenberg, muitos homens e mulheres
fizeram uso dele para expor pensamentos e ideias que mudaram a história da
humanidade, proeza ainda bem longe de ser superada por seus seguidores.
Shakespeare, Cervantes, Victor Hugo, Newton, Machado de Assis, Einstein dentre
muitos outros, ainda podem ser visitados cotidianamente em todas as línguas e
versões por meio desse artefato tecnológico e social de comunicação.
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