Sobre violência, autoridade e afeto





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No contexto de violência em que vivemos, sabemos que há escolas onde a insegurança é explícita. Lecionar em uma universidade para alunos que estão ali porque precisam ou querem não é a mesma coisa que educar crianças e adolescentes que não querem ir à escola. É inócuo e injusto esperar que o professor faça o papel do Estado ou dos pais, mas há momentos em que a autoridade é adquirida pela capacidade de compreender e suportar e não pelo poder de impor e exigir. Existem alunos que só assim são conquistados.

A coação moral conduz apenas ao resultado único do sentimento do dever, ao contrário do respeito mútuo e das relações de cooperação que, segundo Piaget, “podem caracterizar-se por um sentimento diferente, o sentimento do bem, mais interior à consciência, cujo ideal de reciprocidade tende a tornar-se inteiramente autônomo”. Pode parecer utópico para o mundo atual semear atitudes assim, mas é papel da escola cultivar a utopia da solidariedade “por uma questão eminentemente pedagógica, ou seja, porque se trata de educar, não de fabricar agressores”, como diz Pedro Demo.

O professor deve sempre usar palavras de incentivo para esses estudantes. Deve também crer e fazê-los crer que são importantes. Ainda que seja imprescindível corrigi-los, as palavras precisam transmitir ânimo e confiança e não reforçar o erro e as imperfeições. Tudo o que é honesto, verdadeiro, puro e com virtudes deve estar na fala do professor.

Alunos com problemas de comportamento precisam ser depositários de confiança. Geralmente se sentem ociosos, desestimulados. Nada melhor para superar isso do que comissioná-los, dar-lhes responsabilidade. Ao contrário do que eles poderiam esperar por causa do comportamento, essa atitude afetiva estaria promovendo um estímulo para a sua autocorreção.

A questão do afeto percorre todo o histórico da educação, sendo que não podemos menosprezá-lo se realmente queremos educar. Ele pode estar no tema a ser estudado ou no educador que irá transmiti-lo. Há momentos em que ouvimos um aluno dizer: “Não gosto da matéria, mas gosto do professor”. Ou o inverso: “Não gosto do professor, mas amo a matéria”. Em qualquer um dos casos, há grande chance do aluno prosseguir adiante nos estudos com sucesso, por causa da relação afetiva existente.

Orígenes Lessa é um grande nome da literatura nacional. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu para crianças, jovens e adultos. Um de seus livros mais lidos, O feijão e o Sonho, foi adaptado para a TV e virou novela. Em certa ocasião, estava ele em um evento literário numa cidade do Rio de Janeiro rodeado por uma pequena multidão, quando um adolescente se aproximou com um exemplar de um livro seu: Memórias de um cabo de vassoura. Disse o garoto que havia lido aquele livro na escola quando ainda era criança e ficara fascinado com a história, o que o levou a ler outros livros e não parar mais. Pensou então em agradecer ao autor por ter plantado aquela paixão pela leitura.

O septuagenário escritor conteve a emoção naquele momento. Olhou para o jovem e perguntou: “Qual a carreira que deseja seguir?”. “Não sei ainda” – disse o rapaz -. “Bem, qualquer coisa que faça você escrever”, ponderou Lessa.

O adolescente se tornou adulto e jornalista. Manteve, a partir daquele dia, um afetuoso relacionamento de leitor e amigo com o autor, até a morte deste. “Por muitas vezes eu não pude responder se me tornara jornalista por amor à profissão ou ao meu amigo escritor” – disse ele – “mas com certeza aquele livro que eu li na infância foi de inequívoca importância”.

O afeto e também o prazer são propulsores da cooperação. Quando existe a cooperação, a escola deixa de ser apenas uma soma de indivíduos e passa ser uma sociedade. Por isso, é de fundamental importância que o aluno experimente as situações em sala de aula, descobrindo por meio do seu trabalho e da organização das suas atividades, o saber que é pretendido passar para ela.

 





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