O menino-aranha





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Em novembro de 2007, jornais, TVs e revistas de todo o Brasil noticiaram a façanha de um garoto de cinco anos, numa pequena cidade em Santa Catarina. Alguns órgãos da imprensa enfatizaram a frase do menino, na qual, ele afirmava ser o “filho do Homem-Aranha”. Não era por acaso que o garoto brincava usando a roupa do seu super-herói, quando viu fumaça na casa ao lado, que estava sob labaredas de fogo. Correu então para avisar a vizinha que estava fora, mas deixara sua filha de um ano e dez meses em um berço, no quarto onde começou o incêndio. As chamas estavam altas e a mãe teve medo de enfrentá-las. Com a roupa do Homem-Aranha ele disse: “Não chore e não grite, porque eu vou salvar a menina”. Tampou o nariz com os dedos, entrou na casa e pegou a criança no colo e saiu. Nada aconteceu com eles, ficaram ilesos em um incêndio que destruiu oitenta por cento do imóvel de cinqüenta metros quadrados.

Os bombeiros da região resolveram homenagear o garoto, que passou a ser chamado de herói – com toda a justiça – e ser motivo de orgulho para os dois mil e quinhentos moradores da cidade. Além do seu ato destemido de coragem, ainda recusou uma recompensa financeira da mãe que, espontaneamente, tentou demonstrar seu profundo agradecimento ao menino. “O que é o dinheiro perto da vida da minha filha?”- Disse ela.

Foi surpreendente para os bombeiros a ação de enfrentar as chamas para salvar o bebê. Ainda não haviam conhecido caso de igual bravura infantil. Todavia, pediram aos outros pais que jamais permitissem aos seus filhos a imitação de tal gesto. Apesar de a história ser de final feliz, entrar em um incêndio daquelas proporções, sem treinamento e proteção, poderia terminar em tragédia. Pelo que foi divulgado na imprensa, o menino ganhou a fantasia do Homem-Aranha por ser fã do super-herói, criado por Stan Lee, na década de 1960, e adaptado para o cinema com muito sucesso. “O Homem-Aranha não é fraco não, não tem medo de nada”, disse o garoto.

Afirmando que o seu sonho é ser bombeiro, pediu à família que colocasse uma mangueira de água na sua residência, para poder usá-la em caso de incêndio.

Para as suas professoras da pré-escola, ele é dinâmico e participativo. A princípio, ninguém acreditou quando o garoto começou a descrever pictoricamente a sua aventura. Nem seus amiguinhos. Pensaram que era fruto da sua imaginação. Todos só foram convencidos da verdade quando viram as equipes de reportagem chegarem à cidadezinha em busca do “Menino-Aranha”.

É bem provável que o menino da cinematográfica história cresse verdadeiramente que possuía algum poder de super-herói e, como é normal em toda a criança da sua idade, a perspectiva da morte estivesse ainda muito remota na sua consciência. A realidade exterior é para criança ou adolescente tão exterior e objetiva quanto para nós. Seus primeiros interesses, suas primeiras brincadeiras ou aventuras são essencialmente realistas e tendem unicamente à imitação daquilo que aos seus olhos existe, seja concreto ou apenas ilusório. O pensamento tem toda a aparência de um cuidado exclusivo com o realismo. Esse imaginário, o aluno leva para a escola, correlatamente com tudo o que lhe afeta. Constrói com as suas emoções, permeadas por sua mente, um mundo fantástico – bem melhor do que o seu mundo real -, que procura viver em casa e com os amigos, desejando, naturalmente, vivê-lo também em sala de aula.

 

Extraído do livro “Afeto e aprendizagem: relação de amorosidade e saber na prática pedagógica”

 





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